Agora, como sempre,
é com outros que se obtem perícia,
pois não é fácil abrir
a porta dos poemas ainda escondidos.
(Baquílides)
segunda-feira, 9 de maio de 2016
Jorge de Sena, "IVº dos Sonetos da Visão Perpétua"
O que o teu corpo foi, não imaginas:
A juventude, a força, a agilidade,
A fantasia obscena, a intensidade
Com que dos gestos se constrói prazer.
Mas isso ele foi em sonhos. Hei-de ver
Teu corpo assim, ou como o possuí?
Ou hei-de vê-lo como ao longe o vi?
Ou como estatua, em lixo de ruínas?
Jacente dormirá, estendida e pura?
Mas como dormirás, se em mim não dorme
O tempo que a teu rosto ainda tritura?
Como nos mata esta velhice enorme!
Que vinha vindo entre nós dois, tão dura,
Que melhor fora te tornar informe…
Ou sombra dúbia pela noite escura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário