segunda-feira, 8 de março de 2010

"O profundo silêncio das flores", Egito Gonçalves

O profundo silêncio das flores
é um lugar de ausência. Vazia moldura
para o voo das aves, linha oscilante
de ligeira névoa
que nada revela do que talvez esconda.
Vagueio por literaturas, leite
derramado, danço
a horas perdidas, sigo na música
a cor deixada pelo vento. Uma brisa
curta que apenas estremece
o coração. A manhã toma forma,
as árvores ainda não devoram
a sombra. O Mar Negro
solta as suas medusas na babugem
da praia. Olho da varanda
o horizonte: um dia sem surpresas,
um dia apenas a passar. Falta-me
um sonho, uma hélice pronta
a agitar as águas. Uma testemunha
capaz de modelar o inevitável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário