sábado, 14 de março de 2015

Al Berto, "Diários"













                                                      rua do forte

9 de abril de 1985


os dias em cinza correm velozes onde não te alcanço.

que me visites de tempos a tempos é o que desejo. de resto, vou perdendo a vontade de tudo, até de escrever. de te reinventar, cada instante por trás das palavras. é uma ilusão, eu sei, mas é também a única maneira de ir sobrevivendo ao imenso caos que me assola nestes últimos tempos.

o pior é que, se calhar, não existes muito mais para além da forma das palavras. um terrível silêncio separa-nos porque não te posso amar mais naquilo que escrevo. Quando me surges escrito és outro já. não aquele que amo e a quem escrevo. mato-te assim, ao longo das noites. matando-me também a mim. ou aquele que julgo ser quando te sobrevivo. quem morre?

qual de nós é o outro? quem mata quem? quem escreve? quem ficou escrito? em que momento preciso do silêncio nos tocamos? tu, vivendo nas palavras, e eu alimentando-me delas. ou vice-versa. onde? quando?

 

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