sábado, 5 de agosto de 2017

Manuel Maria Barbosa Du Bocage










"Já Bocage não sou!... À cova escura..."

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino* fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se  me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

* Aretino - O poeta se compara ao poeta e dramaturgo italiano Pietro Aretino (1492 - 1556), autor do "Diálogo das Prostitutas" e dos "Sonetos Luxuriosos". 
Protegido e respeitado pelos nobres, temerosos da mordacidade dos seus escritos, Aretino foi um panfletário licencioso, vivendo em Roma e em Veneza.
Adquiriu uma liberdade incomum na sua época, pois, de forma ousada e pouco convencional para os padrões literários do período, atacou nobres e clérigos.
Era conhecido como o "Flagelo dos Príncipes".

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