segunda-feira, 21 de maio de 2018

Fernando Pessoa, "A minha alma ajoelha ante o mistério..."


A minha alma ajoelha ante o mistério
Da sua íntima essência e próprio ser,
Faz altar do sentido de viver
E cálice e hóstia do seu grave etéreo

Senso de se iludir. Corpo funéreo
Doente da vida. Alma a aborrecer
O que nela é corpo… Vida a arder
Tédio, (e) as sombras são seu fumo aéreo.

Sombra de sonho… Hálito de mágoa…
Alma corpo de Deus, disperso e frio
Boiando sobre a morte como em água…

Indecisão… Penumbra do pensar.
Fonte oculta tornada claros rio…
Rio morrendo-se no imenso mar…

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