quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Eugénio de Andrade, "O amor"


Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.

Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.

A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma .

Assim é o amor: mortal e navegável.


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