quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Juan Ramón Jimenez, "Como, morte, temer-te?"


Como, morte, temer-te?
Não estás aqui comigo, a trabalhar?
Não te toco em meus olhos; não me dizes
que não sabes de nada, que és vazia,
inconsciente e pacífica? Não gozas,
comigo, tudo: glória, solidão,
amor, até tuas entranhas?
Não me estás a sustentar,
morte, de pé, a vida?
Não te levo e trago, cego,
como teu guia? Não repetes
com tua boca passiva
o que quero que digas? Não suportas,
escrava, a gentileza que te obrigo?
Que verás, que dirás, aonde irás
sem mim? Não serei eu,
morte, tua morte, a quem tu, morte,
deves temer, mimar, amar?

Tradução de José Bento

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