terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Dámaso Alonso, "Como era"


A porta, aberta. 
                        Veio calma e suave.
Nem matéria nem espírito. Trazia
uma ligeira inclinação de nave
e uma luz matinal de claro dia.

De ritmo não era, ou de harmonia,
nem de cor. O coração a sabe,
mas dizer como era não poderia
pois não é forma, nem na forma cabe.

Língua, barro mortal, cinzel inepto,
deixa a flor intacta do conceito
na clara noite desta minha boda,

e canta mansamente, humildemente,
a sensação, a sombra, o acidente,
enquanto Ela me enche a alma toda.

Tradução de José Bento.

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