sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

David Mourão-Ferreira, " Nocturno"


Eram, na rua, passos de mulher.
Era meu coração que os soletrava.
Era, na jarra, além do malmequer,
espectral o espinho de uma rosa brava...

Era, no copo, além do gim o gelo;
além do gelo a roda de limão...
Era a mão de ninguém no meu cabelo.
Era a noite mais quente deste verão.

Era, no gira disco, o Martírio
de São Sebastião, de Debussy...
Era na jarra, de repente, um lírio!
Era a certeza de ficar sem ti.

Era o ladrar dos cães na vizinhança.
Era, na sombra, um choro de criança...

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