terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Miguel Torga, "Tribunal"


Não há outros comparsas no processo.
Eu acuso, defendo e sou juiz
Do réu que também sou, preso por mim.
O crime é um acto de rebelião
Contra os altos ditames da razão,
Que mandam que me aceite como vim.

Ora eu não me quero tal e qual!
Desejo-me intangível, imortal,
Não sei ao certo ainda em que universo...
E aguardo, cabisbaixo, o julgamento,
Enquanto vou sentindo o pensamento
Evadir-se da sala em cada verso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário