sexta-feira, 28 de junho de 2013

Cecília Meireles, "Elegia"


Perto da tua sepultura,
trazida pelo humilde sonho
que fez a minha desventura,
mal minhas mãos na terra ponho,
logo estranhamente as retiro.
Neste limiar de indiferença,
não posso abrir a tênue rosa
do mais espiritual suspiro.
Jazes com a estranha, a muda, a imensa
Amada eterna e tenebrosa
pelas tuas mãos escolhida
para teu convívio absoluto.
Por isso me retraio certa
de que é pura felicidade
a terra densa que te aperta.
E por entre as pedras serenas
desliza o meu tímido luto,
com uma quieta lágrima, apenas,
- esse humano, doce atributo.


(Provavelmente dedicado ao primeiro marido, que se suicidou.)

2 comentários:

  1. que coisa mais linda e dolorida! :)

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  2. Pois é.
    Normalmente, o suicídio provoca um misto de revolta e culpa nos parentes. Mas no poema há uma aceitação quase desumana desta forma de perda.

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