quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Cesário Verde, "Heroísmos"


Eu temo muito o mar, o mar enorme,
Solene, enraivecido, turbulento,
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento;
O mar sublime, o mar que nunca dorme.

Eu temo o mar rebelde, informe,
De vítimas famélico, sedento,
E creio ouvir em cada seu lamento
os ruídos dum túmulo disforme.

Contudo num barquinho transparente,
No seu dorso feroz vou blasonar,
Tufada a vela e n'água quase assente.

E ouvindo muito ao perto o seu bramar,
Eu rindo sem cuidados, simplesmente,
Escarro, com desdém, no grande mar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário