segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Lúcio Cardoso, "O demônio no terraço"


Às noites, no terraço, plantas ardiam:
begônias crivadas de fulgores,
dálias amedrontadas pelo luxo,
folhas de azul e de carmim:
às noites.
Músicas se armavam nos andantes
onde uma pausa destoava do frêmito
feito de espera e aquiescência:
o violino era de ouro
e vogava em mar de Irlanda:
no terraço, em torno às plantas, noites ardiam.

Menino tecido em açúcar e avelã:
dono do espaço,
em certas horas cintilavam as begônias no terraço.
Noite foi, não é manhã:
sobre as telhas acorda um bocejo de jasmim.
baixo e pequeno, canta
um demônio vestido de morte e cetim.
O luxo se distende e torna-se espaço.

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