sexta-feira, 21 de abril de 2017

Lúcio Cardoso, "Tema antigo"


Fiz vibrar a grande corda
e, dentro em mim,
como o sangue sem memória,
a morte estremeceu.
Ó inexistentes terras,
veredas de sol e crime,
eu vos sinto como a febre.
No último assomo,
o verde desdém da paisagem
nos espia atrás desse silêncio
onde dormem cantigas e grinaldas
à espera do noivado.

Ó inexistente terras,
praias do assombro,
portas ermas de um sonho
que há muito o apaziguado redimiu
na linguagem desses olhos,
tão calados sempre.

Ó inexistente! Ó mito!
Sois em mim o suspirado,
o cotidiano veneno.
Asa que se debate e foge,
folha nascida, esperança,
única que me fita
e me perdoa - no espelho
onde inútil me contemplo.

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