quarta-feira, 17 de maio de 2017

Adriano Espínola, "Meio-dia (2)"


O sol tomba, 
vertical, 
dos edifícios. 
Ardem os muros perfilados. 

Os objetos vomitam cores, 
embriagados. 

O vermelho dos sinais ri, 
em chamas, 
para os carros. 

Na calçada, 
a luz lambe 
as coxas da garota, 
penetra no blue-jeans 
dos manequins, 
irriga de calor 
a angústia dos homens. 

(Tudo se queima, 
tudo se consome, 
tudo arde infinito.) 

Ó súbita revelação:
o sol me aponta 
o carvão íntimo 
das coisas, 
negro 
coração 
batendo na claridade.

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