segunda-feira, 22 de maio de 2017

Sóror Violante do Céu, "Madrigal"


Enfim fenece o dia,
Enfim chega da noite o triste espanto,
E não chega desta alma o doce encanto:
Enfim fica triunfante a tirania,
Vencido o sofrimento,
Sem alívio meu mal, eu sem alento,
A sorte sem piedade,
Alegre a emulação, triste a vontade,
O gosto fenecido,
Eu infeliz enfim, Lauro esquecido.
Quem viu mais dura sorte?
Tantos males, amor, para uma morte?
Não basta contra a vida
Esta ausência cruel, esta partida?
Não basta tanta dor? tanto receio?
Tanto cuidado, ai triste, e tanto enleio?
Não basta estar ausente,
Para perder a vida infelizmente?
Se não também, cruel, neste conflito
Me negas o socorro de um escrito?
Porque esta dor que a alma me penetra
Não ache o maior bem na menor letra,
Ai! bem fazes, amor, tira-me tudo!
Não há alívio, não, não há escudo,
Que a vida me defenda,
Tudo me falte, enfim, tudo me ofenda,
Tudo me tire a vida,
Pois eu a não perdi na despedida.

Violante da Silveira ou Violante de Montesino nasceu em 1601 e faleceu em 1693.  
Passou a chamar-se Sóror Violante do Céu após entrar para um convento de freiras enclausuradas aos trinta anos de idade.
Consta que não exilou-se da vida mundana por vocação, mas para se proteger de sentimentos amorosos que a arrebataram e fizeram sofrer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário