Cada poema faz olvidar o anterior,
apaga a historia de todos os poemas,
apaga sua própria historia
e até apaga a história do homem
para ganhar um rosto de palavras
que o abismo não apague.
Também cada palavra do poema
faz olvidar a anterior,
se desprende um momento
do tronco multiforme da linguagem
e depois se reencontra com as outras palavras
para cumprir o rito imprescindível
de inaugurar outra linguagem.
E também cada silêncio do poema
faz olvidar o anterior,
entra na grande amnésia do poema
e vai envolvendo palavra por palavra,
até sair depois e envolver o poema
como uma capa protetora
que o preserva dos outros dizeres.
Tudo isto não é raro.
No fundo,
também cada homem faz olvidar o anterior,
faz olvidar a todos os homens.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são últimas coisas.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são também as primeiras.
Tradução de Gerana Damulakis.
Copiado do site http://leitoracritica.blogspot.com/
sábado, 23 de outubro de 2010
Roberto Juarroz
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