sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Nuno Júdice, "Gênese"


Todo poema começa de manhã, com o sol. Mesmo
que o sol não esteja à vista (isto é, céu de chuva)
o poema é o que explica tudo, o que dá luz
à terra, ao céu, e com nuvens à mistura - a luz incomoda,
quando é excessiva. Depois o poema sobe
com as névoas que o dia arrasta; mete-se pelas copas das
árvores, canta com os pássaros, e corre com os ribeiros
que vêm não se sabe de onde e vão para onde
não se sabe. O poema conta como tudo é feito:
como esta manhã, e acaba, também por acaso,
com o sol a querer romper.

Nenhum comentário:

Postar um comentário