sábado, 12 de abril de 2014

Mário de Sá-Carneiro, "Aquel'outro"

O dúbio mascarado - o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito.
O Rei-lua postiço, o falso atónito -
Bem no fundo, o covarde rigoroso.
 
Em vez de Pajem, bobo presunçoso.
Sua Alma de neve, asco dum vómito.
Seu ânimo, cantado como indómito,
Um lacaio invertido e pressuroso. 
 
O sem nervos nem ânsia – o papa-açorda*,
(Seu coração talvez movido a corda...)
Apesar de seus berros ao Ideal.

O raimoso, corrido, o desleal,
O balofo arrotando Império astral:
O mago sem condão - o Esfinge Gorda.
 
* Papa-açorda - s.m. Pessoa indolente, mole, palerma.


 

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