quinta-feira, 22 de maio de 2014

Eugénio de Andrade













"O que sobrou do verão ..."

O que sobrou do verão, alguns
cabelos, a luz da pele, esses gritos
anunciando a migração
das andorinhas do mar, o que sobrou

não o procures na minha boca;
nunca o deserto floriu nos lábios; nunca
o silêncio, essa flor rara, foi cristal
na madrugada;

o que sobrou do verão ilumina outro céu,
caminha e caminha
sobre águas mais limpas,
não voltará tão cedo, não voltará

a estes leitos, estas palavras.

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