segunda-feira, 11 de maio de 2015

Gilberto Mendonça Teles, "Exegese"


Você quer se esconder, então se mostre.
Diga tudo que sabe sobre a vida.
Conte a sua experiência nos negócios,
proclame seu valor de parasita
e deixe que discutam nas casernas
o seu bendito fruto entre as melhores
famílias desta terra.

Depois esconda tudo num poema
e fique descansado: ninguém lê.
Se ler, começam logo a ver navios
e achar que tudo é poetagem, símbolos,
desejos reprimidos,
                           psicanálise,
o diabo a quatro.

O poema não é uma caverna
sigilosa, com sombras tautológicas
nas paredes.

O poema é simplesmente
a sombra sem caverna, o vulto espesso
de si mesmo, a parábola mais reta
de quem escreve torto,
                                     como um deus
canhoto de nascença.

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