quinta-feira, 2 de junho de 2016

Donizete Galvão, "Cenho"


A certa altura, íntima alquimia
alterou-lhe a textura da pele da barriga.
A trama das células perdeu o tônus
de carne de pêssego e sopro de brisa.

O fundo vale que lhe descia das costelas
já não exibia o frescor da parábola,
nem a tessitura de cetim da rosácea
que se abria sob o apalpo dos dedos.

Não disse adeus àquela que partia,
nem vi quando chegou esta outra
que cria enigmas no canto da boca.

Foi então que, entre os olhos fundos,
surgiram vincos de um cenho duro,
cuja natureza feriu de morte os dois.

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