terça-feira, 21 de junho de 2016

Lúcio Cardoso, "Insônia"


Como quem chega ao fim
e sabe que já não pode mais.
Como quem sorve a febre e o veneno,
como quem olha a chuva se abrir
na rua molhada em que não caminhará,
como quem a alma inteira sente
aflorar aos lábios sem perdão.

Ó insônia, volta! As paredes altas
ante olhos proibidos se levantam.
E nunca em mim ferveu tamanha cólera,
nunca maldisse tanto a fome de viver!
E nunca tanto como agora, tendo a morte
presente ao meu olhar como uma lágrima,
senti pulsar mais alto em mim
o frêmito da vida!

Nenhum comentário:

Postar um comentário