domingo, 17 de dezembro de 2017

Gomes Leal, "O velho palácio"


Houve outrora um palácio, hoje em ruínas,
Fundado numa rocha, à beira mar...
Donde se avistam lívidas colinas,
E se ouve o vento nos pinhais pregar.
Houve outrora um palácio hoje em ruínas...

Nesse triste palácio inabitável,
As janelas, sem vidros, contra os ventos,
Batem, de noite em coro miserável,
Lembrando gritos, uivos e lamentos.
Nesse triste palácio inabitável...

Só resta uma varanda solitária,
Onde medra uma flor que bate o norte,
Sacudida da chuva funerária,
Lavada de um luar branco de morte.
Só resta uma varanda solitária...

Como nessa varanda apodrecida
Em minha alma uma flor também vegeta...
Toda a noite dos ventos sacudida,
Íntima, humilde, lírica, secreta.
Como nessa varanda apodrecida...

Um comentário:

  1. A LUZ

    A luz entrava na palavra e revelava
    um outro patamar da imagem.
    Era uma terra desconhecida
    uma gramática nova.
    A luz entrava e subvertia tudo
    advérbios verbos preposições.
    A luz sem adjectivos
    quase cegueira de tão branca.
    Então pensei: eis o lugar.
    E todas as cigarras cantavam
    nas sílabas morenas de Florbela Espanca.

    MANUEL ALEGRE, Alentejo e Ninguém

    Do Alentejo com um grande abraço e desejo de Boas Festas.

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