quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Jorge de Sena














"Soneto ainda que não"

Como quando indiscreto às coisas me insinuo
E de infinito amor lhes dou sentido
Que de mim próprio é voz e precisão
De ser um ser que sendo as reconhece,
Me vejo ambíguo e distraído e firme
Na vã presciência que, rememorada,
É como um estar por sempre ininterrupto,
Aliciando humanamente as coisas.

Mas, meu amor, por ti tudo contemplo.
Por ti penetro como em ti em tudo
E torno realidade este fortuito
Encontro permanente de que vivo.
Se noutro mundo fora que existisses,
Eu te criara neste e às minhas coisas.

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