domingo, 8 de maio de 2011

Alguns poemas da “CARTILHA DE GUERRA ALEMÃ II”, de Bertold Brecht


I

NA GUERRA MUITAS COISAS CRESCERÃO
Ficarão maiores
As propriedades dos que possuem
E a miséria dos que não possuem
As falas do Führer
E o silêncio dos guiados

II


SE OS CAMPOS DOS JUNKERS (*) FOREM DIVIDIDOS
Não será preciso conquistar os campos dos camponeses ucranianos
Se os campos dos camponeses ucranianos forem conquistados
Os Junkers terão mais campos.

(*) Junkers eram os grandes proprietários de terras na Prússia, que também pertenciam à nobreza germânica mais tradicional (como os "coronéis" do nosso nordeste).

III

AQUELES QUE LUTAVAM CONTRA SEU PRÓPRIO POVO
Lutam agora contra outros povos
Novos escravos
Se juntarão aos velhos.

IV


É NOITE
              Os casais
              Deitam-se nos leitos. As mulheres
              Parirão órfãos.


V


PARA QUE CONQUISTAR MERCADOS PARA OS PRODUTOS
Que os trabalhadores fabricam ?
Os trabalhadores
Ficariam de bom grado com eles.

VI


O FÜHRER LHES DIRÁ: A GUERRA
Dura quatro semanas. Quando chegar o outono
Vocês estarão de volta. Mas
O outono virá e passará
E tornará a vir e passar muitas vezes
E vocês não voltarão.
O pintor lhes dirá: AS MÁQUINAS
Farão tudo por nós. Bem poucos
Precisarão morrer. Mas
Vocês morrerão às centenas de milhares, tantos
Como nunca se viu morrer.
Quando eu ouvir que vocês estão no Pólo Norte
Ou na Índia ou no Transvaal, apenas saberei
Onde um dia se encontrarão seus túmulos.

Tradução de Paulo Cezar de Souza


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