Estão aqui as pobres coisas: cestas
esfiapadas, botas carcomidas, bilhas
arrebentadas, abas corroídas,
com seus olhos virados para os que
as deixaram sózinhas, desprezadas,
esquecidas com outras coisas, sejam:
búzios, conchas, madeiras de naufrágio,
penas de ave e penas de caneta,
e as outras pobres coisas, pobres sons,
coitos findos, engulhos, dramas tristes,
repetidos, monótonos, exaustos,
visitados tão só pelo abandono,
tão só pela fadiga em que essas ditas
coisas goradas e orfãs se desgastam.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Jorge de Lima, Poema VIII, do Canto V, da "Invenção de Orfeu"
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