domingo, 25 de setembro de 2011

João Cabral de Melo Neto




"O fogo no canavial"

A imagem mais viva do inferno.
Eis o fogo em todos seus vícios:
eis a ópera, o ódio, o energúmeno,
a voz rouca de fera em cio.
E contagioso, como outrora
foi, e hoje, não é mais, o inferno:
ele se catapulta, exporta,
em brulotes* de curso aéreo,
em petardos que se disparam
sem pontaria, intransitivos;

mas que queimada a palha dormem,
bêbados, curtindo seu litro.
(O inferno foi fogo de vista,
ou de palha, queimou as saias:
deixou nua a perna da cana,
despiu-a, mas sem deflorá-la.)

*Brulote - Navio carregado de material inflamável que após ser incendiado era lançado sem tripulantes sobre a frota inimiga.

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