sábado, 3 de setembro de 2011

Miguel Torga, "Relato"

Foi longo o meu caminho de poeta,
Com versos de agonia demorada:
A vida imaginada
Paralela
à outra, acontecida.
E ambas a enfunar a mesma vela
Já sem rumo à partida.

Os áugures previam,
Os mapas ensinavam,
A bússola apontava...
Mas faltava-me a fé das almas confiadas.
Teimoso, repetia
A pergunta inquieta que fazia
Ao vazio das horas navegadas.

Que certa direcçäo
Dar ao timão
Numa viagem sem qualquer sentido?
O mar diariamente enfurecido,
O céu diariamente enevoado,
E o barco fatalmente conduzido
A um cais de morte sempre adivinhado...


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