sexta-feira, 6 de abril de 2012

Augusto dos Anjos, "Asa de corvo".


Asa de corvos carniceiros, asa
De mau agouro que, nos doze meses,
Cobre às vezes o espaço e cobre às vezes
O telhado de nossa própria casa...

Perseguido por todos os reveses,
É meu destino viver junto à essa asa,
Como a cinza que vive junto à brasa,
Como os Congourts*, como os irmãos siameses!

É com essa asa que eu faço este soneto
E a indústria humana faz o pano preto
Que as famílias de luto martiriza...

É ainda com essa asa extraordinária
Que a morte - a costureira funerária -
Cose para o homem a última camisa.

*Os irmãos Goncourts foram dois escritores franceses do século XIX que escreviam juntos o mesmo livro.


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