domingo, 1 de abril de 2012

Marly de Oliveira










 "Vertigem"
    
1. Meu nome é o nome que me deram
    numa pia de batismo,
    cuja origem desconheço.
    Mas há um nome secreto
    que cada um escolhe quando chega a tempo
    de repelir o acessório:
    e sou apenas um eu, um tu.
    Despojada de tudo o que me acrescentaram
    - sem a minha aquiescência -
    retorno ao centro de mim mesma,
    ao núcleo.

2. Às vezes certa doçura
    é confundida com fraqueza
    (temor ou submissão).
    Ninguém está preparado
    para o amor real, fraterno,
    sem a vertigem do egoísmo
    ou da paixão.

3. Se de ânimo cativo se pudesse
    de forma inteira e livre então provar
    o excesso, a que me esquivo por costume
    e disciplina de alma, ah, se chegava
    então ao êxtase, em virtude
    de, enfim, acreditar na entrega
    sem temor, franqueando
    à invasão do inimigo
    o muro erguido.

4. Pois recapitulemos:
    o tempo flui, a vida passa,
    e se o sentido me escapa
    de estar aqui querendo ainda
    entender o motivo de meu estar aqui,
    é que ando dividida
    entre ser e viver numa insensata
    ânsia que me perde
    os anos mais felizes.
    (Relembrei Leopardi.)

5. Sempre desejei estar onde estava,
    sempre quis ter o que tinha.
    Inútil fingir que vivia
    à cata do que faltava,
    que, na verdade, é o que falta
    sempre: o entendimento do mundo
    e este vazio, esta ausência disfarçada
    numa pedra, no cedro, na esmeralda.

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