terça-feira, 24 de abril de 2012

Marly de Oliveira, "Natureza morta"


A mesa, a tolha branca,
e sobre a mesa, plácido,
como em puro repouso,
um faisão dourado.
De que aljava, de que arco,
sobre o mar, que tardes,
que navegando céus
azuis de aves e barcos,
de que mãos, de que cega
vontade de ferir
terá partido a seta,
direto ao voo, ao peito,
às plumas frias e altas?
Que cega pontaria
te tombou no horizonte,
como um feixe de luzes
tuas penas brilhantes,
tua mínima vida
colorida e deserta?
Vejo teu corpo, o claro
movimento retido
na pousada asa aberta,
e penso, em ti,
urdo os fios da trama,
e temo a minha seta.

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