segunda-feira, 29 de outubro de 2012

António Ramos Rosa, "A noite chega com todos os seus rebanhos"


A noite chega com todos os seus rebanhos.
Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo.
Há um imã que nos atrai para o interior da montanha.
Os navios deslizam nos estuários do vento.
Alguma coisa ascende de uma região negra.
Alguém escreve sobre os espelhos da sombra.
A passageira da noite vacila como um ser silencioso.
O último pássaro calou-se. As estrelas acenderam-se.
As ondas adormeceram com as cores e as imagens.
As portas subterrâneas tem perfumes silvestres.
Que sedosa e fluída é a água esta noite!
Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos.
Alguém me habita como uma árvore ou um planeta.
Estou perto e estou longe no coração do mundo.

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