segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Salvatore Quasimodo, "Anno Domini MCMXLVII"


Haveis parado de rufar os tambores
na cadência da morte aos quatro horizontes
junto aos féretros cobertos de bandeiras,
de semear chagas e lágrimas de piedade
nas cidade destruídas, ruína sobre ruína.
E ninguém mais exclama: "Deus ó Deus
por que me abandonastes?" E não mais corre
nem leite nem sangue no peito furado. E agora
que haveis ocultado os canhões entre as magnólias,
deixai-nos um dia sem armas, sobre a relva,
ao som da água que escorre,
das folhas de caniço frescas no cabelos
enquanto abraçamos a mulher que nos ama.
Que de repente não nos soe antes da noite
o toque de recolher. Um dia, um dia só
para nós, senhores da terra,
antes que outra vez rufle o ar e o ferro
e um estilhaço nos arda em plena fronte.

Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti

Nenhum comentário:

Postar um comentário