quarta-feira, 27 de março de 2013

José Angel Valente, "O Adeus"


Entrou e inclinou-se até beijá-la
porque dela recebia a força.

(A mulher olhava-o sem resposta.)

Havia um espelho umedecido 
que imitava a vida vagamente.
Apertou a gravata,
o coração,
engoliu o café desvanecido e turvo,
explicou seus projetos
para hoje,
seus sonhos para ontem, seus desejos
para nunca mais.

(Silenciosa, ela contemplava-o.)

Falou de novo. Recordou a luta
de tantos dias e o amor
passado. A vida é algo inesperado,
disse (As palavras mais frágeis do que nunca.)
Por fim calou-se com o silêncio dela,
aproximou-se de seus lábios
e chorou simplesmente sobre aqueles
lábios já para sempre sem resposta.

Tradução de José Bento.


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