sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

João Cabral de Melo Neto, "Litoral de Pernambuco"

 
O mar se estende pela terra
em ondas ondas que se revezam
e vão se desdobrando até ondas
secas de outras marés:
 

As ondas da areia, que mais adiante
se vão se desdobrando nos mangues,
que se desdobram (quase palha)
num capim lucas, de limalha,
 

que se desdobra em canaviais,
desdobrados sempre em outros mais,
e desdobrando ainda mais longe
o campo raso do horizonte,
 

como se tudo fosse o mar
em mais ondas a desdobrar
a mesma natureza rente
de um verde ácido e higiene:
 
tudo debaixo do alumínio
de um sol de cima nordestino,
sem que nada, ou coisa, interponha
o domingo de alguma sombra,
 
tudo sob um céu mineral
que preside em pedra, imparcial,
e que devassa tudo ali,
mesmo os grotões onde parir.
 

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