quinta-feira, 8 de maio de 2014

Antônio Parreiras, "Marabá"

















Marabá, que no idioma tupi-guarani significa algo como "misturada", é o nome que os indígenas da região do Rio de Janeiro davam às crianças mestiças, nascidas de mãe índia e pai francês, durante o século XVI.
Elas eram discriminadas pelos outros membros na tribo, devido aos traços delicados, à cor dos olhos e da pele.

2 comentários:


  1. Acredito que o quadro seja uma referência ao poema Marabá, de Gonçalves Dias, porque as "marabás" eram discriminadas na tribo, devido à cor dos olhos e da pele, e aos traços delicados das feições do rosto que elas herdavam de seus pais franceses.
    Gonçalves Dias escreveu um poema intitulado Marabá, onde ela reclama da rejeição que sofria na tribo:

    Marabá

    Eu vivo sozinha, ninguém me procura!
    Acaso feitura
    Não sou de Tupá!
    Se algum dentre os homens de mim não se esconde:
    — "Tu és", me responde,
    "Tu és Marabá!"

    — Meus olhos são garços, são cor das safiras,
    — Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
    — Imitam as nuvens de um céu anilado,
    — As cores imitam das vagas do mar!

    Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
    "Teus olhos são garços",
    Responde anojado, "mas és Marabá:
    "Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
    "Uns olhos fulgentes,
    "Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!"

    — É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
    — Da cor das areias batidas do mar;
    — As aves mais brancas, as conchas mais puras
    — Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.

    Se ainda me escuta meus agros delírios:
    — "És alva de lírios",
    Sorrindo responde, "mas és Marabá:
    "Quero antes um rosto de jambo corado,
    "Um rosto crestado
    "Do sol do deserto, não flor de cajá."

    — Meu colo de leve se encurva engraçado,
    — Como hástea pendente do cáctus em flor;
    — Mimosa, indolente, resvalo no prado,
    — Como um soluçado suspiro de amor! —

    "Eu amo a estatura flexível, ligeira,
    Qual duma palmeira",
    Então me respondem; "tu és Marabá:
    "Quero antes o colo da ema orgulhosa,
    Que pisa vaidosa,
    "Que as flóreas campinas governa, onde está."

    — Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
    — O oiro mais puro não tem seu fulgor;
    — As brisas nos bosques de os ver se enamoram
    — De os ver tão formosos como um beija-flor!

    Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,
    "São loiros, são belos,
    "Mas são anelados; tu és Marabá:
    "Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
    "Cabelos compridos,
    "Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá,"


    E as doces palavras que eu tinha cá dentro
    A quem nas direi?
    O ramo d'acácia na fronte de um homem
    Jamais cingirei:

    Jamais um guerreiro da minha arazóia
    Me desprenderá:
    Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
    Que sou Marabá!









    ResponderExcluir