sexta-feira, 6 de junho de 2014

Antônio Carlos Secchin, "Noturno"

 
Os reis de Copa
ostentam eretas
espadas mestras
em frente ao mar.
Transatlânticos desejos
encalhados na areia.
Damas de paus
e valentes seios
expostos à carícia
de dólares e brisas.
Eis Lizbeth, ou João Batista,
ouro puro do subúrbio,
ex-ás do cais do porto,
atual contorcionista
do pescoço de pilotos
à procura de conquistas.
O seu rosto é reformado
por algum cirurgião-artista,
pois queixo, nariz e olhos
revelam influência cubista.
Passeiam pares de bicicletas
sob um céu abotoado de estrelas.
Na luz plástica dos postes
passam famintas pombas pretas.
Fome de tudo, em meio à neblina:
saliva, esperma, cocaína.
O bigode roça a nuca sôfrega.
E enquanto o corpo exala e treme
passa, ácida, a patrulha
de um insone PM.
O amor é de lei
ou desviado? Pouco importa;
a polícia, na maior parte,
só sabe celebrar
os rituais de Marte.
Mas frente a ímã tão terreno
caos e lei se entredevoram
em cabine ao abrigo do sereno.
Ao guarda rapaz apraz, ao menos,
a ronda noturna no planeta Vênus.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário