sábado, 12 de julho de 2014

Allen Ginsberg

   

















"Um super mercado na Califórnia"                       

Como estive pensando em você esta noite, Walt Whitman,
enquanto caminhava pelas ruas sob as árvores, com dor
de cabeça, autoconsciente, olhando a lua cheia.

No meu cansaço faminto, fazendo o Shopping

das imagens, entrei no supermercado das frutas
de néon sonhando com tuas enumerações!

Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras

fazendo suas compras a noite! Corredores
cheios de maridos!

Esposas entre os abacates, bebês nos tomates! – e você,

Garcia Lorca, o que fazia lá, no meio das melancias?

Eu o vi Walt Whitman, sem filhos, velho vagabundo

solitário, remexendo nas carnes do refrigerador e lançando
olhares para os garotos da mercearia.

Ouvi-o fazer perguntas a cada um deles; Quem matou

as costeletas de porco? Qual o preço das bananas?
Será você meu Anjo?

Caminhei entre as brilhantes pilhas de latarias, seguindo-o

e sendo seguido na minha imaginação pelo detetive da loja.

Perambulamos juntos pelos amplos corredores com nosso

passo solitário, provando alcachofras, pegando cada um
dos petiscos gelados e nunca passando pelo caixa.

Aonde vamos, Walt Whitman? As portas fecharão

em uma hora. Para quais caminhos aponta tua barba
esta noite? (Toco teu livro e sonho com nossa
odisseia no supermercado e sinto-me absurdo)

Caminharemos a noite toda por solitárias ruas?

As árvores somam sombras às sombras, luzes apagam-se
nas casas, ficaremos ambos sós.

Vaguearemos sonhando com a América perdida do amor,

passando pelos automóveis azuis nas vias expressas,
voltando para nosso silencioso chalé?

Ah, pai querido, barba grisalha, velho e solitário professor 

de coragem, qual América era a sua quando Caronte parou
de impelir sua balsa e Você na margem nevoenta, olhando
a barca desaparecer nas negras águas do Letes?


Tradução de Cláudio Willer

Nenhum comentário:

Postar um comentário