quarta-feira, 30 de julho de 2014
Rainer Maria Rilke
Um deus o pode. Mas, da lira ao solo,
há de o homem consegui-lo? À dissensão
tendemos, e não há Templo de Apolo
no enredar dos ramais do coração.
O canto, como o queres, não são teus
desejos, nem a busca do atingível.
Cantar é ser. Tão fácil para o Deus!
Mas, quando o somos? E Ele, quando ao nível
de nosso olhar o céu e a terra esplende?
Jovem, no amor ainda não és, conquanto
a palavra te suba ao lábio. Aprende
a esquecer que cantaste. É sem alento.
Uma outra coisa é o verdadeiro canto.
Um sopro ao nada. Um voo em Deus. Um vento.
Tradução de Ivo Barroso
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