quinta-feira, 17 de julho de 2014

Ferreira Gullar










"Calco sob os pés sórdidos o mito..."

Calco sob os pés sórdidos o mito
que os céus segura - e sobre um caos me assento.
Piso a manhã caída no cimento
como flor violentada. Anjo maldito,

(pretendi devassar o nascimento
da terrível magia) agora hesito,
e queimo - e tudo é o desmoronamento
do mistério que sofro e necessito.

Hesito, é certo, mas guardo o assombro
com que verei descer dos céus remotos
o raio que me fenderá no ombro.

Vinda a paz, rosa-após dos terremotos,
eu mesmo juntarei a estrela ou a pedra
que de mim reste sob os meus escombros.

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