quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Mário de Andrade

 

                   
 
 
 
 
 
 
 
 
"Poemas da Negra"
 
                                 a Cícero Dias

                     I
 
Não sei por que espírito antigo
Ficamos assim impossíveis...

A Lua chapeia os mangues
Donde sai um favor de silêncio
E de maré.
És uma sombra que apalpo
Que nem um cortejo de castas rainhas.
Meus olhos vadiam nas lágrimas.
Coberta de estrelas,
Meu amor!

Tua calma agrava o silêncio dos mangues.

                    II

Não sei si estou vivo...
Estou morro.

Um vento momo que sou eu
Faz auras pernambucanas.
Rola rola sob as nuvens
O aroma das mangas.
Se escutam grilos,
Cricrido continuo
Saindo dos vidros.
Eu me inundo de vossas riquezas!
Não sou mais eu!
 
Que indiferença enorme. ..
 
 
               III
 
 
Você é tão suave,
Vossos lábios suaves
Vagam no meu rosto,
Fecham meu olhar.
 
         Sol-posto.
 
É a escureza suave
Que vem de você,
Que se dissolve em mim.
 
        Que sono...
 
Eu imaginava
Duros vossos lábios,
Mas você me ensina
A volta ao bem.
 
 

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