terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Lúcio Cardoso, "Sinto em ti um deserto imenso que flameja"


Sinto em ti um deserto imenso que flameja,
cactus, ilhas, palmeiras estranhas que farfalham,
línguas de fogo que ondulam como flâmulas
no terrível segredo dos teus olhos.

Mil anos, mil vozes negras e insepultas,
fermentam ao longo destas terras solitárias.
Mil vozes de desejo, mil gritos de angústia,
mil beijos de revolta e de tormenta.

E neles rolam grandes vagas arenosas,
castelos, montanhas líquidas de ouro,
astros, o frêmito selvagem do verão.

E quando, às vezes, riem as tuas pupilas,
sinto passar no fundo hostil deste horizonte
a sombra enorme de um pássaro da morte.

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