quarta-feira, 12 de julho de 2017

Adriano Espínola















"Fragmentos de uma poética do lugar"

E daí, se eu não fui para as montanhas,
encher minhas mãos de calos,
tomar banho de cuia,
plantar milho e versos
caipiras ao amanhecer?
.........................................

E daí, se eu não zarpei em uma jangada,
passei duas semanas no mar
e não voltei triunfante
com um caçuá na mão?
.........................................

Mas o que eu vejo é a cidade.

A poesia, companheiro, está onde se é.
O resto vem na imaginação.

Não necessita de ser buscada
no topo das montanhas não-mágicas,
no sal dos sacrifícios
ou no suor dos lavradores distantes.

Quanto esforço!

A mim me basta vê-la (onde estou),
no meio da rua,
desritmada como a vida,
entrando
           na contra-mão,
                               correndo,
           apertando-se
(dentro dos ônibus e do salário)
      tropeçando na multidão,
............................................
seguindo
pelas ruas da memória & do esquecimento,
           lá fora/
                                 no centro,
           cá dentro
           de mim mesmo ou dos subúrbios
.............................................

(Se eu vivesse noutro lugar,
a poesia estaria naturalmente        
                                     noutro lugar,
mesmo se eu imaginasse o contrário disso tudo).

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