domingo, 30 de julho de 2017

Eucanaã Ferraz














"Aceite"

Ninguém nos verá. Os sapatos: mudos;
os corpos; transparentes; o aeroporto
finge que não houve. Ninguém ouvirá
de nós os passos sem cadarços.

Nossos passaportes? Sem fotos. Secreta
Viagem, para onde deixaremos de nós
algo tão belo (uma sílaba, uma letra?
um?) que parecerá imprestável

diante das flores insuportavelmente
doce do Aterro do Flamengo, prontas
para o frasco. Seremos um lugar
silencioso, liso, concentrado,

sem o olor dos parques abertos
à visitação, aos corredores, às bicicletas.
Uma viagem secreta.
Diga que sim,

que sim
(a beleza injustificada dos poemas,
a alegria dos cronópios, o clarão
do gozo, o ramo muito alto do riso).

Viajarmos até onde coubermos,
até onde quisermos a vontade.
Não levaremos a dor.
Não carregaremos medo.

Diga: sim! Depois combinamos
o resto. Marcaremos a data.
Etc. etc.
etc.

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