sábado, 23 de setembro de 2017

Jorge de Sena














"IIIº Soneto da Visão Perpétua"

Não mais! Não mais! Que eu esqueça que te tive,
E tu me esqueças debruçado em ti!
Que tudo seja como outrora eu vi:
Uma figura ao longe recortada,

E fina e esbelta, ou suave e alongada,
Não tão distante que me não entendas,
Nem tão perto de mim que tu me vendas,
No mesmo corpo belo, o que não vive

Nesse teu rosto ou sob a tua pele:
Uma malícia esplêndida, capaz
De se entregar violenta quando a impele,

Sem mais que orgulho, a força juvenil.
Assim será que, em mim, teu corpo jaz.
E sem nos lábios o sorriso vil.

Mas como há-de teu corpo em mim ter paz?

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