domingo, 15 de abril de 2018

Abgar Renault, "A Ela"


São frios os meus versos como Tu:
como os teus dedos lívidos de gelo,
como esse olhar sem órbitas, nem pálpebras,
como a lâmina dessa foice fria
que, fria, Tu manejas friamente.
Nos escassos parênteses que deixas
entre meu mim e teus abraços de ossos
eu mal me encontro e mal consigo ver-me
no mesmo espelho em que me via outrora
e mal me sei como sabia quando
teu vulto ainda não aparecera
tal a segunda sombra do meu corpo.
Não sei que forma e fundo me darás,
não sei para que quando e para que onde
carregarás minha alma e minha carne;
só sei ser impossível meu fugir-Te,
como impossível é meu esperar-Te
sem de frio tremer e de pavor,
e meu desejo é apenas esquecer-Te
para esquecer que não me esquecerás.

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