segunda-feira, 9 de abril de 2018

Luiz de Camões e Antônio Carlos Secchin .


O soneto abaixo do Secchin é quase uma atualização dos impulsos e do vocabulário de um homem contemporâneo, feito sobre o conhecido soneto de Camões, transcrito no final.

"Sete anos de pastor "

Penetro Lia, mas Raquel é quem me move,
e faz meu corpo desatar toda alegria.
Se tenho Lia, minha pele não navega
nada além de nada em névoa fria.

Sete anos galopando em Lia e tédio,
sete anos condenado ao gozo escuro.
Raquel me tenta, e se me beija Lia
minha boca é não, e minha mão é muro.

Labão, o puto, perdoai-me nesse instante,
adoro a dor que doer em minha amante.
Vou cravar-lhe um punhal exausto e certo,

doar seu sangue ao livro e à ventania.
Quieta Lia será terra em que os cavalos
vão pastar, sob a serra e o deus do dia.


"Sete anos de pastor Jacob servia..."

Sete anos de pastor Jacob servia 
Labão, pai de Raquel, serrana bela; 
Mas não servia ao pai, servia a ela, 
E a ela só por prêmio pretendia. 

Os dias na esperança de um só dia 
Passava, contentando-se com vê-la; 
Porém o pai, usando de cautela, 
Em lugar de Raquel lhe deu Lia. 

Vendo o triste pastor que com enganos 
Lhe fora assim negada a sua pastora, 
Como se a não tivera merecida; 

Começa de servir outros sete anos, 
Dizendo: Mais servira, se não fora 
Para tão longo amor tão curta a vida. 

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