Suspiro de angústia
Enchendo o espaço,
Vontade de chorar,
Coisa miserável,
Miserável.
Senhor, piedade de mim,
Olhos misericordiosos
Pousando nos meus,
braços divinos
cingindo meu peito,
coisa miserável
no pó sem consolo,
consolai-me.
Mas de nada vale
Gemer ou chorar,
De nada vale
Erguer mãos e olhos
Para um céu tão longe,
Para um deus tão longe
Ou, quem sabe? Para um céu vazio.
É melhor sorrir
(sorrir gravemente)
e ficar calado
e ficar fechado
entre duas paredes
sem a mais leve cólera
ou humilhação.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Carlos Drummond de Andrade, "Coisa miserável"
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