Que parem os relógios, cale o telefone,
Jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
Que emudeça o piano e que o tambor sancione
A vinda do caixão com seu cortejo atrás.
Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
Escrevam sempre contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto – um laço no pescoço –
E os guardas usem finas luvas cor-de-breu.
Era meu Norte, Sul, meu Leste, Oeste, enquanto
Viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
Meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
Quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.
É hora de apagar estrelas – são molestas,
Guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
De despejar o mar, jogar fora as florestas,
Pois nada mais há de dar certo doravante.
Tradução de Nelson Ascher
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
W. H. Auden, "Funeral blues"
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